Republicado em: FAPESP Na Mídia
A crise hídrica crônica enfrentada por Bauru e uma característica peculiar do relevo da cidade, localizada sobre uma janela geológica que propicia o encontro dos aquíferos Guarani (a mais de 320 metros de profundidade) e Bauru (a mais de 30 metros de profundidade), foram fatores que pesaram para o município ser selecionado, em meio a todo o Estado, ao Projeto Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes (Sacre). Apresentado para autoridades nesta terça-feira (5), no auditório do Senai Bauru, o estudo hidrogeológico é considerado inédito do ponto de vista de investimentos e de abrangência de ações e soluções. Isso porque, além de diagnosticar, mapear e monitorar as condições das águas subterrâneas, descobrindo quais seus potenciais e níveis de contaminação, a pesquisa também apontará as condições e as possíveis saídas para as águas superficiais, contando com soluções naturais e de gestão para melhorar o abastecimento. O Projeto Sacre conta com financiamentos da Fapesp e apoio de universidades brasileiras (USP, Unicamp, Unesp e Unifesp), canadense (Waterloo) e japonesas (Hiroshima e Okayama), além de instituições de pesquisa do governo estadual (IPA, IPT, Cetesb, Sima). EM ANDAMENTO Com duração de cinco anos, o projeto faz parte de um convênio a ser assinado entre o DAE e a USP no próximo mês. No entanto, testes e pesquisas já estão em andamento em Bauru, conforme o coordenador do estudo, o pesquisador Ricardo Hirata. Segundo ele, equipes têm perfurado pequenos poços (de até 2 polegadas de diâmetro) próximos ao Rio Bauru para captar amostras e, inicialmente, checar o nível de contaminação do aquífero mais superficial (o Bauru). Os primeiros resultados devem ser divulgados em outubro deste ano. "A ideia é identificar a presença de compostos emergentes, como fármacos, hormônios e contraceptivos. O nitrato é um contaminante mais comum de ser encontrado. Mas, ninguém nunca estudou, por exemplo, a influência do contraceptivo na qualidade das águas. O teflon mais antigo também, ele é altamente tóxico, mas temos um grande desconhecimento sobre isso", comenta Hirata. RESERVA A pesquisa também visa estabelecer as condições, na região, da maior reserva de água subterrânea do mundo, o Aquífero Guarani, hoje explorado por muitas cidades brasileiras, inclusive por Bauru. "Sabemos que aquíferos mais rasos sofrem mais com fugas da rede de esgoto. E aqui, no município, falta um pedaço do basalto que protege o Aquífero Guarani, o que proporciona o encontro dele com o Aquífero Bauru em certo ponto", observa Luciana Martin Rodrigues, diretora do Instituto de Pesquisas Ambientais da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado. Essa janela geológica não interfere na questão do abastecimento, contudo, esse contato pode contribuir para um risco maior de contaminação do Guarani, uma vez que o Aquífero Bauru é muito utilizado de forma privada. E é isso que o estudo também irá verificar. ANÁLISES ANTERIORES Pesquisas anteriores realizadas por órgãos do Estado e pelo próprio DAE sobre as águas também ajudaram a cidade a ser selecionada para esse estudo inédito. "Existem muitos dados de análises químicas geradas sobre Bauru, mas poucos foram interpretados da forma como se deve. Agora, vamos analisar tudo de maneira mais holística, entender a situação que esses dados secundários descrevem. A partir daí, desenvolveremos três ou quatro frentes de pesquisa nas quais haverá obras também", descreve Hirata. O projeto irá perfurar poços e realizar ações de recarga induzida de água para influenciar o ecossistema na região do Horto Florestal. Intervenções no Rio Batalha também estão previstas, pontuam os pesquisadores. 'Todo apoio' Presente no evento, a prefeita Suéllen Rosim reconheceu que a cidade foi escolhida pelo projeto por seus problemas. "A oportunidade passa uma vez só e, no que depender de nós, o estudo terá todo apoio. Reconhecemos nossas limitações e dificuldades. Precisamos de ajuda para resolver de uma vez por todas a falta de água", ressalta. Presidente do DAE, Marcos Saraiva frisou que a verba destinada ao estudo, e que pode ultrapassar R$ 8 milhões, entre investimentos diretos e bolsas de estudos, não terá custos para o município. "É um estudo bastante aprofundado e técnico. Sabemos que o mundo, nos próximos anos, enfrentará problemas de escassez de água. Nesse aspecto, acredito que Bauru sairá na frente por ser a pioneira nesse estudo", finaliza.
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